quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

AMOR SE FAZ NA COZINHA

Por um instante fechei os olhos e retornei a cozinha de minha vó que fritava bolinhos de chuva enquanto cantava “Segura na Mão de Deus e Vai”.
Eu achava engraçado aquilo, mas por alguma razão (que a própria razão não explica) os bolinhos tornavam-se um pouco mais do que especiais.
Você os comia e era como se nada de ruim pudesse lhe acontecer.
É como no filme Bonequinha de Luxo quando a Audrey diz que na Tiffany’s nada de mal pudesse acontecer... Bem, me sentia exatamente assim na cozinha simples e rural da casa de minha vó.

Então hoje não quero fazer pesquisas sobre a história de receitas ou pratos de tradições seculares.
Hoje eu vou retirar minha dólmã, esquecer das panelas de aço inox e das colheres de acrílico.
Apresentar-me-ei simples, livre de todos os entraves criados por agências que condenam colheres de pau. (Engraçado que meus avós, pais e eu mesmo fomos criados com comidas feitas em panelas de ferro e com colheres de pau e crescemos fortes, sadios sem nunca termos pego alguma destas contaminações do Dr. Bactéria. A comida tinha muito mais sabor!).
Vou pegar todos essas “coisificações” alimentares pela qual a cozinha passa desde a Revolução Industrial e descartá-las.

POIS COMIDA TAMBÉM É FEITA PARA O CORAÇÃO.

Na correria do capitalismo os sabores se perderam em pratos congelados feitos no micro-ondas na curta hora de almoço de quem precisa voltar voando para escritórios sóbrios e cinzas.
E quando não são congelados são frituras encharcadas que agridem o corpo e fazem o trabalho entediante ficar muito mais maçante do que já é.
Pessoas saem correndo do trabalho, sentam em restaurante, engolem os alimentos.
E depois reclamam de má digestão... (bem feito!)
Mas sabe o que realmente fode (desculpe pela palavra, mas eu precisava usá-la) com tudo? Fast-foods que fazem você acreditar que comidas artificiais são boas.
No meio de todas essas engrenagens sujas de graxa a cozinha vai sendo esquecida e ainda há o desaforo de termos de ouvir mulheres e homens enchendo a boca de orgulho para dizerem que não sabem cozinhar.
São pessoas que apenas deixaram de temperarem suas vidas... Como um arroz sem alho, cebola e sal.

Pois bem, a cozinha é coração da casa!
 É o centro onde tudo pode ser modificado, transmutado, transformado.
Não tem palavras que possam exprimir a satisfação de você assar um bolo, servir no café da tarde para seus amigos e ouvir elogios e ver sorrisos de “meu Deus que delícia”.
Mas a cozinha não aceita pessoas insensíveis que fazem tudo por automatismo.
E saiba que quando me refiro a cozinha não digo estas industriais com linhas de produção onde pessoas reclamam a todo o momento. Pra mim isso não é uma cozinha, é apenas um centro de produção de sabor e aromas artificiais cheios de conservantes de nomes estranhos.
A cozinha te surpreende quando você chega cansado em casa e o aroma do alecrim (daquele potinho que você deixou destampado) preenche sua casa e faz você sentir-se revigorado e com vontade de criar. Ou mesmo naqueles dias onde você sente que algo está faltando e o assado recém tirado do forno exalada um aroma que te preenche.
É na cozinha que fazemos amor. Porque amor é prazer. E se não foi prazer então você é apenas mais um destes robôs que acreditam que comida serve apenas para encher barriga.
Conheço pessoas que dizem que nunca acertam uma única receita. E não vão acertar enquanto viverem reclamando que odeiam cozinhar.
A cozinha abraça todas as pessoas que conseguem enxergar além do alimento em si, todas aquelas que quando começam o preparo já estão pensando no prazer que será gerado por quem degustar.
Eu brinco que minha avó é PhD na cozinha e nunca vou esquecer-me das lições que ela deu:

1.       Entre na cozinha sem mágoas no coração
2.       Cozinhe sem medo
3.       Se estiver triste asse um bolo para agradecer.
4.       Se estiver feliz asse um bolo para agradecer. 
5.       Tenha amor em tudo aquilo que você faz porque quando você não puder mais cozinhar haverá sempre alguém do seu lado que terá amor em cozinhar para você.

“Amor meu neto, se faz na cozinha...”

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